Rompeu a manhã na beira do cais
O povo desperta com fogo no peito
Da noite passada, ficaram sinais
Relembrando vidas vividas sem jeito
No espaço do tempo passado a correr
Há vestígios fortes de dôr escondida
A farra acabou sem chegar a ver
A beleza pura do inverso da vida
Na pressa fugaz que tem o destino
Vão-se atropelando sonhos juvenis
O instinto carnal dum sonho menino
Morreu á nascença... perdeu a raíz
Pedaços de lama salpicam o rosto
Dum actor fingindo que sabe o que quer
A luz da esperança, é um fogo posto
Na alma dum sonho que quer renascer
A chuva caíu ás portas do céu
Embora o inverno já vá muito longe
As gotas d´orvalho que a dôr concebeu
Transformam-se em pranto, num rosto de monge
Perdidos na rua do esquecimento
Andam os projectos que não passam disso
O gozo atenua o vil sofrimento
Embora gozar pareça um feitiço
Trepam-se paredes sem chegar ao cume
Rompem-se fronteiras sem banda de lá
Agita-se um fogo que já não tem lume
Agita-se um sonho, sem ter talismã
Ai... vida mesquinha e tão mentirosa
Que prometes tanto, em troca de nada
Raiva que entristeces a mais linda rosa
Ganhando a tristeza na dôr consumada
Sem tempo para perder
Vê se aprendes a viver!