Palavras frias

Pareceu-me ver de perto / Uma fogueira ateada
Ao fundo daquela estrada / Que não tinha rumo certo;
O rumo foi o deserto / A que me vi empurrado
Por não te amar em pecado / Quando em ti tudo era amor
E assim fui deportado
Às catacumbas da dor

Deportado então me vi / Entregue a palavras frias
Que quase todos os dias / Escrevia para ti;
Mas nem mesmo consegui / Sair do fosso em que estava
E quando a dor aumentava / Eu sonhava ter-te aqui
E se o teu nome rimava
Via-me igual ao Ary

Sonhando como quem pensa / Tornar o sonho maior
Construí ao meu redor / Esta solidão imensa;
Mesmo com esta descrença / A marcar o meu destino
Serei sempre o peregrino / Desta caminhada intensa;
E porque sou genuíno
Não há nada quem vença