Poemas metrificados ( na sua maioria ) para Fado.

Poema testamentário

Tenho um amor telepático / Que anda a pôr-me cismático
Porque não é muito prático / Tem falta de ar... é asmático

Tenho um velho candeeiro / Que dá luz o dia inteiro
E faz de mim prisioneiro / Duma conta sem dinheiro

Tenho um fogão mutilado / Com o forno avariado
No qual faço um cozinhado / Que fica sempre estragado

Tenho um jarrão amarelo / Que comprei no Cabedelo
Num dia em que um pesadelo / Me fez perder o cabelo

Tenho um barco de brincar / Que não sabe flutuar
E que nunca foi ao mar / Com medo de naufragar

Tenho um casaco em veludo / Com botões, bolsos e tudo
Que era dum tipo sisudo / Que tinha um nariz bicudo

Tenho um carro muito velho / Todo manchado a vermelho
E que tem um aparelho // Em figura de coelho

Tenho uma casa a caír / Com parades a ruír
Onde não posso dormir / E da qual quero fugir

Tenho um boneco de palha / Metido no meio da tralha
Que nada tem que lhe valha / E nem a pilhas trabalha

Enfim... tenho um património / Benzido pelo demónio
Segundo dizem, heterónimo / Do velhinho São Jerónimo

Tudo isto e muito mais / Deixarei aos meus rivais
No tal dia em que os meus ais / Não se façam ouvir mais

Para já lá vou vivendo
Com misérias que vou tendo!!!