Tenho saudades de dizer “bom dia”
Ao velho ardina, que logo p’la manhã
Sem saber as notícias que trazia
Vendia desgraças e dizia “olá”
Tenho saudades da padeira nobre
Que me levava o pão ao pé da porta
E com olhar de esperança quase morta
Dizia que o amor é coisa pobre
Tenho saudades do velho cobrador
Que me vendia o bilhete na estação
E com um ar de rei e de senhor
Nunca por nunca me apertava a mão
Tenho saudades da mesa de café
Que me serviu de aconchego alimentar
Excepto quando á pressa, era de pé
Que o gostoso café ia tomar
Saudade, saudade, sentimento eterno
Que dói por vezes, mais do que a idade
Quando chega a primavera, é do inverno
Que o meu pobre coração sente saudade