Ali, ao dobrar da esquina / Apreciando a beleza
Duma jovial menina / De raça bem portuguesa;
Reparei que a natureza / Tem coisas intemporais
Que talvez sejam normais / Para quem pouco conhece;
Porém, a mim me parece / Que a natureza destina
Uma luz quase divina / Que quase sempre escurece;
E quando o tempo amanhece / Da forma mais genuína
Qualquer sol desaparece
Ali ao dobrar da esquina
Ali ao dobrar do tempo/ Temendo o tempo que vinha
Reparei quanto é mesquinha / A alma do pensamento;
Tão frágil é o momento / Em que as vidas se desatam
E por vezes se maltratam / Com a dor do sofrimento;
P’la falta de sentimento / Há sorrisos de negrura
O sol é de pouca dura / A lua é raro sustento;
Enquanto no firmamento / Uma estrela chora triste
Porque pouco ou nada existe
Ali ao dobrar do tempo
Ali ao dobrar da vida / Projectada para a morte
Reparei o quanto é forte / A memória da partida;
Ai sorte... maldita sorte / Que andas de mim fugida
Desviando-me do norte
Ali ao dobrar da vida.