Espelho meu que me vês / d'olhar distante
Quase sempre em sofrimento / deprimente
Sem perceberes o tormento / agonizante
Que esta solidão me fez / tão cruelmente
Olhas p'ra mim mas não sentes / vê lá bem
Pena das penas que dás / ao respirar
És frio, porém não mentes / a ninguém
Nem sabes como se faz / p'ra disfarçar
Tentas, com subtileza / e algum cuidado
Descobrir fogos em quem / naturalmente
Saiba manter sempre acesa / no meu fado
A chama que o sonho tem / quando é presente
Ai coração meu amigo / voz altiva
Sempre mole ou sempre duro / com empenho
Que pena só teres contigo / em chama viva
Segredos que não procuro / mas que tenho