ALMA da MINHA POESIA
Sopros da Minha Magia
Blogue especialmente dedicado a minha filha MARTA CASTRO *a razão maior duma vida em amor*
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... eu tenho a noçao exata / das minhas limitações / mas quando d'amor se trata / perco todas as noções ...
* 610 poemas *
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Poesia Amaliana
Cantado com nostalgia
Amália, pra nosso agrado
Foi também boa poesia
Poesia que trespassa
O tempo da nossa vida
Como pomba que esvoaça
Entre chegada e partida
Poesia que provém
Daquele dom tão estranho
Que faz de quem o detém
Um gigante sem tamanho
Poesia que descreve
Segredos d'alma florida
Porque a alma sempre teve
Mais vida que a própria vida
27.12.2020
Balanços
Suspensos no ar da vida
São destinos que ninguém
Rejeita por mal ou por bem
Até que a morte decida
São balanços que só sente
Quem vive desafiando
O destino, porque a gente
Só pode seguir em frente
Com regras que nos vão dando
Regras que com ou sem cor
Vivas ou já muito gastas
São sempre a prova maior
Que pode existir amor
Mesmo com frases nefastas
Importante é conhecer
O limite sem fronteiras
Que nos ajuda a vencer
Batalhas, onde o prazer
Por amor, rompe barreiras
O2.01.2020
O reformado
Não fuma, não joga, não bebe… e afinal
Fiquei a saber que ele anda ocupado
A falar daqueles que conhece mal
Encontra defeitos em coisas de nada
Encontra virtudes apenas em si
Escreve poemas de rima forçada
E diz que não gosta dos versos do Ary
Só vai ao café p’ra ver futebol
Bebe a sua bica e não solta pio
Detesta o Verão por causa do sol
Detesta o Inverno por causa do frio
Diz gostar de jazz, teatro e cinema
Afirma que o fado não é português
Para ele “o fado” é coisa pequena
Gosta muito mais do canto inglês
Como bom machista, acha que a mulher
Tem de cozinhar, limpar e não só
Mulher só existe para dar prazer
P’ra ser companheira, ser mãe e avó
Afirma que o tempo de agra não presta
Que a sociedade nasce corrompida
Diz ele que o povo apenas quer festa
E que a juventude já nasce perdida
Cinzento, antipático e mal-educado
Só vai à igreja quando há funerais;
Conheço um sujeito que está reformado:
Gente como esta tem o mundo a mais
Canoa sempre canoa
Canoa de vela erguida
Que p’la morte-lei da vida
Foste tomada de assalto
Lágrimas de orvalho triste
São já saudade que existe
No país do Bairro Alto
-
Canoa de vela panda
Que deliciosa e branda
Na nossa alma te entranhas
E com os olhos enxutos
Consegues ver os teus putos
Junto ao homem das castanhas
-
Canoa, conheces bem
O mistério que contém
A saudade tua e minha
Adeus parceiro das farras
Silêncio, gemem guitarras
Por morrer uma andorinha
-
01.01.2021
Saudade em flor
Foi jardim onde deixamos
As memórias que mantenho
Refletem o tamanho
A rua onde o coração
Caminhava em direção
Agora tem outro brilho
Porém eu ainda trilho
É nessas recordações
Que ao reviver emoções
Acredita, meu amor
Que por teres sido maior
05.12 2020
Acusações temporárias
Esquecendo que o tempo é sempre um amigo
Acusaram o tempo de ser traiçoeiro
Esquecendo que o tempo é bom justiceiro
Acusaram o tempo de incompreensão
Esquecendo que o tempo tem sempre razão
Acusaram o tempo de falta de senso
Esquecendo que o tempo é forte, é imenso
Acusaram o tempo de leviandade
Esquecendo que o tempo nos dá liberdade
Acusaram o tempo de nunca parar
Esquecendo que o tempo faz o mundo andar
Acusaram o tempo de ser um perdido
Esquecendo que o tempo não se dá por vencido
Acusaram o tempo de andar pela rua
Esquecendo que o tempo é dono da lua
Acusaram o tempo de mudar o céu
Esquecendo que o tempo no céu se perdeu
Acusaram o tempo pelo vento mudo
Esquecendo que o tempo é senhor de tudo
Acusaram o tempo, porém, mesmo assim
O tempo tem tempo p'ra chegar ao fim
Quem o acusou não fez nada bem
O tempo mudou e vai mais além !!!
Natal diferente
Este natal será tão diferente
Quão diferente será a própria lua
Que virá ter connosco... e tristemente
Andará a chorar de rua em rua
Este natal será também estranho
Tão estranho que sequer terá o brilho
Daquele amor maior e sem tamanho
Do velho pai, que abraça o próprio filho
Este natal será marcado p'la tristeza
Imposta pelas regras sociais
Que serão o garante e a certeza
De segurança pra nós, simples mortais
Enfim... este natal será cinzento
Será negro, ou terá todas as cores
Daquele estranho e forte sentimento
Que vem do mais sublime dos amores
Saiba bem, ou saiba mal
Natal é sempre natal.
18.12.2020
Natal atípico
Atípico e surreal
Não tem o mesmo tamanho
De qualquer outro Natal
Faltam pessoas à mesa
E que falta que elas fazem
Connosco fica a tristeza
P´los sorrisos que não trazem
Ainda bem que o progresso
Nos mantém conectados
Através desse processo
De acesso a todos os lados
Mesmo co'a família ausente
Por motivos naturais
Podemos naturalmente
Recordar outros natais
Saudade em flor
Foi jardim onde deixamos
A saudade ganhar flor
As memórias que mantenho
Refletem o tamanho
Desse nosso amor maior
A rua onde o coração
Caminhava em direção
Ao futuro condenado
Agora tem outro brilho
Porém eu ainda trilho
Os caminhos do passado
É nessas recordações
Que ao reviver emoções
Uma lágrima me assalta
Acredita, meu amor
Que por teres sido maior
És fado que me faz falta
Água
Dádiva quase divina
Água pura... refrescante
Matando a sede constante
Água que tem
Um travo que sabe bem
Que não faz mal a ninguém
E dá mais prazer à vida
Água ditosa
Alimentando uma rosa
Para a tornar radiosa
Cheirosa e mais florida
Mar de vida... mar salgado
Mar que mesmo encapelado
Mar da vida... mar à solta
Onda que vai e que volta
O fado é de quem o ama
Não tem dono sequer, nem tem patrão
O fado só pertence ao coração
De quem o sente seu e o trata bem
O fado é a mensagem principal
Dum povo que conserva na memória
Momentos, quer de dor, quer de glória
Fazendo o seu passado natural
Passado que por ter a cor cinzenta
Não quer perder o brilho que merece
Passado que sustenta e alimenta
FuTuros que a saudade desconhece
E sempre que a saudade ganha voz
A alma ganha a cor que o fado tem
O fado é povo e o povo somos nós
Portanto.... não é meu nem de ninguém
A todos os santos
Nem tempo tenho prá fé / Desculpa Santa Maria
De tão breve e tão fugaz / Que é o amor de toda a gente
Nem sequer posso ter paz / Desculpa lá São Vicente
De tão intensas que são / As tentações do demónio
Nem penso na redenção / Desculpa-me Santo António
De todas as aflições / Pelas quais padeço eu
Não mereço ter perdões / Nem de São Bartolomeu
Na hora da despedida / Bem antes do meu velório
Vou em passo de corrida / Abraçar o São Gregório
Voltarei muito mais leve / Sem marcas no coração
Pra beijar quem nunca teve / Festejos de São João
Nem tudo na vida é triste / Nem tudo na vida é mau
E se a desgraça persiste / Valha-nos São Nicolau
De tantos e tão doridos
Que são todos os meus prantos
Eu deixo aqui mil pedidos;
Valham-me todos os santos
Nuvens de fado
Com a alma imaginada
Da saudade limitada
P'la voz que tem o passado
Prendeu e ninguém sentiu
Que o fado estava a sofrer
Pela onda que surgiu
No mar que o fado não quer
O mar do fado não é
O brilho que alguém lhe deu
Sendo religião e fé
O mar do fado é o céu
E no céu que o fado alcança
Quando cantado a rigor
As nuvens da esperança
Estão repletas d'amor
Em meu nome
Que faço e refaço a vida inteira
Eu não tenho saudades da saudade
Porque a saudade vive à minha beira
Em nome do amor que tenho ao fado
Sentido, por quem ouve a voz que tem
Eu não tenho saudades do passado
Quando chamo plo fado, o fado vem
Em nome do amor familiar
Que tenho, porque penso merecer
Eu não tenho saudades pra matar
Mas tenho em mim saudades de viver
Por isso e só em nome do que sou
Sabendo que já pouco ou nada presta
Eu só quero a saudade que ficou
Para matar o tempo que me resta
Saudade, forma de amar
Nada consegue apagar
Saudade é forma de amar
Há um amor já desfeito
Saudade é forma de amar
Teimosa vem relembrar
Eterno é sempre o penar
A maior forma de amar
Desfasamento
Porém, dois rumos traçados
Mais parecendo dois fados
Tinham o brilho ofuscado
Dum amor algo apressado
Feito apenas de pecado
Eram a prova maior
Que quando não há amor
Resta apenas o sabor
Cada um buscava o acoite
Voando no céu da noite
Ou no inferno do dia
Eram dois corpos e apenas
Almas com asas pequenas
Agitadas ou serenas
Uma coisa qualquer
Qualquer homem tem memória / Qualquer mulher tem vaidade
Qualquer sonho tem destino / Qualquer animal tem fome
Qualquer berço tem menino / Qualquer menino tem nome
Qualquer planta tem vaso / Qualquer jardim tem flor
Qualquer processo tem caso / Qualquer doença tem dor
Qualquer direção tem rumo / Qualquer noite tem luar
Qualquer fogueira tem fumo / Qualquer navio tem mar
Qualquer garganta tem voz / Qualquer cantor tem cantiga
Qualquer rio tem a foz / Qualquer ceifa tem espiga
Qualquer amigo tem ombro / Qualquer erro tem engano
Qualquer guerra tem escombros / Qualquer baile tem piano
Qualquer aldeia tem rio / Qualquer concerto tem luz
Qualquer Verão tem estio / Qualquer pecador tem cruz
- - -
Qualquer mesa tem cadeira / Qualquer cama tem colchão
Qualquer amor tem cegueira/ Qualquer beijo tem paixão
Qualquer país tem bandeira / Qualquer empresa tem dono
Qualquer medo tem barreira / Qualquer ano tem Outono
Qualquer amor tem estima / Qualquer vida tem passado
Qualquer poema tem rima / Qualquer guitarra tem fado
Espelho da minha dor
Quase sempre em sofrimento // deprimente
Sem perceberes o tormento // agonizante
Que esta solidão me fez // tão cruelmente
Olhas p'ra mim mas não sentes // vê lá bem
Pena das penas que dás // ao respirar
És frio, porém não mentes // a ninguém
Nem sabes como se faz // p'ra disfarçar
Tentas, com subtileza // e algum cuidado
Descobrir fogos em quem // naturalmente
Saiba manter sempre acesa // no meu fado
A chama que o sonho tem // quando é presente
Ai coração meu amigo // voz altiva
Sempre mole ou sempre duro // com empenho
Que pena só teres contigo // em chama viva
Segredos que não procuro // mas que tenho
O peso das palavras
Tão duro tão real e tão intenso
Que mesmo no azar temos a sorte
De fazer das palavras fogo imenso
Um fogo que não serve pra queimar
Mas sim para aquecer, como convém
Qual chama que ficou a crepitar
Enquanto o sol brilhava mais além
Carregadas de valor intemporal
As palavras despertam atenção
E fazem lei na lei da sensatez
Palavras são o fruto natural
Do pensamento que dá ao coração
Razões para cantar em português
Mãe-saudade
Tinha consigo o perfume
E dava, como ninguém
Beijos de mel e de lume
Mãe-saudade, era clarão
A iluminar o caminho
Tinha o genial condão
De fazer do seu carinho
Mãe perfeita, mãe-saudade
Presença sempre constante
Mulher-vida, amor-verdade
Mulher-força, amor-amante
Poeta maior
A tua voz incendeia
Cumprindo regras
Envolves os sentimentos
- - -
Bailado imenso
Com a cadência de quem
E é tão intenso
Que as dores de bem e mal
- - -
Rompendo almas
Vais transformado os espinhos
Assim acalmas
Quando o deus do amor te deu
Em meu nome
Que faço e refaço a vida inteira
Eu não tenho saudades da saudade
Porque a saudade vive à minha beira
-
Em nome do amor que tenho ao fado
Sentido, por quem ouve a voz que tem
Eu não tenho saudades do passado
Quando chamo plo fado, o fado vem
-
Em nome do amor familiar
Que tenho, porque penso merecer
Eu não tenho saudades pra matar
Mas tenho em mim saudades de viver
-
Por isso e só em nome do que sou
Sabendo que já pouco ou nada presta
Eu só quero a saudade que ficou
Para matar o tempo que me resta.
Poema testamentário
Porque não é muito prático // Tem falta de ar... é asmático
-
Tenho um velho candeeiro // Que dá luz o dia inteiro
E faz de mim prisioneiro // Duma conta sem dinheiro
-
Tenho um fogão mutilado // Com o forno avariado
No qual faço um cozinhado // Que fica sempre estragado
-
Tenho um jarrão amarelo // Que comprei no Cabedelo
Num dia em que um pesadelo // Me fez perder o cabelo
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Tenho um barco de brincar // Que não sabe flutuar
E que nunca foi ao mar // Com medo de naufragar
-
Tenho um casaco em veludo // Com botões, bolsos e tudo
Que era dum tipo sisudo // Que tinha um nariz bicudo
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Tenho um carro muito velho // Todo manchado a vermelho
E que tem um aparelho // Em figura de coelho
-
Tenho uma casa a caír // Com parades a ruír
Onde não posso dormir / E da qual quero fugir
-
Tenho um boneco de palha // Metido no meio da tralha
Que nada tem que lhe valha // E nem a pilhas trabalha
-
Enfim... tenho um património // Benzido pelo demónio
Segundo dizem, heterónimo // Do velhinho São Jerónimo
-
Tudo isto e muito mais // Deixarei aos meus rivais
No tal dia em que os meus ais // Não se façam ouvir mais
-
Para já lá vou vivendo
Com misérias que vou tendo!!!
O rio da minha foz
Bailando na minha voz
E quando o Fado acontece
Todo o mundo me parece
O rio da minha foz
Na caminhada que faz
O rio é sempre capaz
De alcançar o seu destino
Sabendo que vai chegar
Até aos braços do mar
Que o ama desde menino
Ai rio da minha vida
Que nunca dás por vencida
A batalha que travaste
Navego nas tuas águas
Afogando as minhas mágoas
No leito que me emprestaste
Sopros partilhados
Sopros da alma que tenho
É por te saber amigo
E vires do tempo que venho
Vens do tempo em que ser gente
Era ter à flor do peito
Aquele singular jeito
De saber ser diferente
Vens do tempo em que, por mais
Que a dor te marcasse a vida
Nunca davas por perdida
A luta pelos ideais
Vens dum tempo em que afinal
Ser português verdadeiro
Era ser o mensageiro
Da alma de Portugal:
País amado e cantado
Pela tua voz de fado
No peito duma guitarra
Bate um coração magoado
Quando a saudade desgarra
O fado é muito mais fado
GLOSA
São memórias dum passado / Que me vai acorrentando
Embora de quando em quando / Eu vá suportando a cruz
Da tua imagem de luz / À qual minh’alma se agarra
Há um som que me seduz
No peito duma guitarra
Canto com voz de saudade / Para descrever melhor
A triste realidade / De viver sem teu amor
Mas é tão grande o calor / Sentido dentro do peito
Que chego a perder o jeito / P’ra cantar o meu pecado
Neste meu fado imperfeito
Bate um coração magoado
Se as nuvens do meu tormento / Formassem um novo céu
O gemer do próprio vento / Seria somente meu
No entanto, o olhar teu / Tem muito mais sedução
Tem a força dum vulcão / Rompendo qualquer amarra
Chego a perder a razão
Quando a saudade desgarra
Talvez um fado futuro / Me traga novas promessas
Pois talvez tu não mereças / Este meu amor tão puro
É por isso que eu procuro / Uma rima conselheira
Que seja mais verdadeira / E me traga um sol doirado
Quando a paixão é inteira
O fado é muito mais fado
Poetas da minha voz
Todos cantei com o zelo
Cantei palavras que são
Que o poeta, amigo-irmão
Sinais de fogo e revolta
Sinais de saudade solta
Sinais de verdade louca
Onde a saudade é bem pouca
Comparada à voz do Fado
Só mesmo a voz do pecado
Noções de saudade
Quantas saudad
Na alma que vive em mim
Saudades que até me dão
A mais perfeita noção
Do quanto é bom ser assim
Penso que tenho o direito
De aconchegar em meu peito
Os sonhos que em mim persistem
Penso até que ao ir sonhando
Vou livremente voando
Por céus que sequer existem
Nunca perdi a noção
Do amor, nem da razão
Com que vivo e a que me dou
Tal como nunca perdi
Esta paixão que senti
Quando o fado me abraçou
Falem de mim mas não digam
Que as saudades me castigam
Ou que me fazem sofrer
As saudades são apenas
As vivências mais serenas
Que tenho sem escolher
O princípio do amor
Um olhar, um sorriso e um espanto
Um coração batendo tanto, tanto
Que parece querer chegar ao fim
A boca com vontade de dizer
Mil versos, pela voz do coração
Para melhor fazer compreender
A magia real duma paixão
Um aceno de rara simpatia
Com as mãos do desejo sonhador
Um perfume com aroma de magia
Simbolizando o convite do amor
Duas bocas perdidas p’lo desejo
Duas mentes desejando perdição
O sabor da paixão no mesmo beijo
Selando a mais perfeita comunhão
Estas palavras
Perdidas na minha voz
São rios buscando foz
No oceano do amor
Estas palavras sem sal
Perdidas neste poema
São a imagem suprema
Dum capricho natural
Estas palavras que são
Fruto da minha saudade
São ecos da liberdade
Com que vivo em solidão
Solto poemas ao céu
P’ra que fiquem com o vento
A não ser o pensamento
Nada mais tenho de meu
O amor é luz do sonho
Não pode sequer sonhar
Com um futuro risonho
O amor é chama acesa
Que nos dá sempre a certeza
Do brilho que tem o sonho
Quem renega um simples beijo
Não sabe quanto desejo
Pode um beijo provocar
A boca que se rejeita
Tem a imagem perfeita
Dum fado por desvendar
Quem tem o amor em má conta
Não sabe o que a alma apronta
Quando junto de seu bem
Quem não ama e não se dá
Jamais compreenderá
A força que o amor tem
A magia da saudade
A saudade portuguesa / Ficou presa no meu fado
Fez de mim porto seguro
E dum jeito delicado
Fez do fado um amor puro
Esta saudade que o amor legou
Tem a voz de alguém que já nos deixou
Esta saudade que é do nosso agrado
Tem a luz do nosso fado
Um amor com a candura / E a frescura da poesia
Um amor que não tem cura / Tem ternura e tem magia
Um amor de rubra cor
Que me nos trouxe a fantasia
Duma alma toda em flor
Relógio do meu tempo
Por mim será cumprida a missão de ser gente
Gente que só nasceu por casualidade
Ó relógio do tempo, aceita a minha lei
Que pede simplesmente um pouco d'atenção
Dá-me mais um momento e eu juro, cumprirei
Religiosamente, a sina que me dão
Ó relógio que bates as horas da loucura
Bate mais devagar enquanto a paixão vive
Relógio, não maltrates as vidas sem ternura
E deixa-me sonhar loucuras que não tive
Uma jornada por dia
Em rotação permanente
Nesta longa cavalgada
Cada jornada, uma estrada
Cada estrada, um passo em frente
Nesta louca correria
Em direção conhecida
Cada dia é mais um dia
Que ao chegar nos anuncia
Um rumo de nova vida
Nesta jornada tão breve
Mais breve que sol d’agosto
A alma fica mais leve
Ao sentir flocos de neve
Na magia do sol posto
Maldita dor
Trazendo a amargura violentamente
Causadora-mor da dor mais intensa
Que deixas escura a alma da gente
Sabemos que tens a vil crueldade
Usada a destempo de forma mordaz
E sempre que vens roubar felicidade
Trazes o tormento que tanto mal faz
Pareces ausente, mas surges do nada
Como que uma luz em noite chuvosa
Ninguém te pressente, porque vens calada
Deixando uma cruz na alma chorosa
Oh maldita dor, vai-te lá embora
E deixa comigo a minha verdade
Eu quero supor que a alma só chora
Porque tem consigo a luz da saudade
Depois... amor
Agora, podes crer, estou ocupado
Ocupado a escrever p'ra meu castigo
A história dum amor já terminado
Depois amor, depois vou procurar-te
P'ra te cantar o fado que compuz
Talvez asim, amor, possa mostrar-te
O peso que carrego em minha cruz
Depois amor, depois confessarei
As falhas que de mim a alma sabe
Naturalmente amor, assumirei
A culpa que decerto a mim me cabe
Depois amor, se a vida assim quiser
Não mais haverá antes nem depois
Terei de novo um fado p'ra escrever
Mas desta vez um fado p'ra nós dois
Esperança derrotada
A sonhar com teu amor;
Que as noites ficaram frias
As madrugadas vazias
E os dias sem luz, nem cor
Perdi a estrela acesa
Da estrada percorrida;
Perdi também a certeza
De ver a mãe natureza
Dar novas vidas à vida
Perdi os sonhos dourados
Que a noite trouxe por ti;
Até a alma dos fados
Que por ti foram cantados
Sem querer também perdi
Só não perdi, felizmente
Os sonhos que a alma alcança;
Meu amor, amor ausente
És a rima permanente
Dum fado rimando esperança
Os nossos silêncios
Nos fados de qualquer voz… e qualquer cor
Tem rimas que são pecado… que anuncia
Quando há silêncio entre nós… e em nosso amor
Silêncio que nos obriga… por momentos
A suportar os espaços… que nos dão
Onde faltam os abraços… ternurentos
E uma palavra amiga… em comunhão
Com os acordes da voz… enternecida
Vamos disfarçando a dor… de sermos sós
Que fica sempre menor… e mais sentida
Quando a rima somos nós… somente nós
A nobreza da alma
Ao fado só não vou quando não posso
O meu amor não tem nada d'estranho
Estranho é não gostar do que é tão nosso
Estranho é não sentir a pulsação
Da alma que traduz maior nobreza
Estranho é não ouvir o coração
Cantar do mesmo jeito como reza
Estranho é não gostar de poesia
Nem tentar perceber donde ela vem
Estranho é misturar o mal e o bem
Condenando o amor à revelia
Se o fado tem o doce desempenho
Do sonho que nasceu para ser nosso
Ao fado só não vou quando não posso
Ao fado só não dou o que não tenho
A rapidez do tempo
A rapidez quase louca
Com que vivo o dia a dia
Chego a ter a sensação
Que viver é coisa pouca
Pois trago a vida vazia
Vida vazia, cruel
Vida de simples loucura
Loucura que vem de ti
Tu és meu favo de mel
Porém não tens a doçura
Dos poemas do Ary
Não és estrela da tarde
Nem és, para meu castigo
A rosa dum grande sonho
És fogueira que não arde
Porque já não tens contigo
Um amanhecer risonho
Este meu fado saudade
Que é grande a minha saudade
Diz ao fado e ao país
Que longe não sou feliz
Diz às ruas de Lisboa
Que a saudade não perdoa
E diz às ninfas do Tejo
Que morro apenas num beijo
Esta distãncia
Tem sempre a janela aberta
E tem a palavra certa
Para rimar com saudade
Esta distãncia
É um sopro magoado
Que desperta em mim, mais fado
Mais fado e mais felicidade
Diz às estrelas do céu
Que o luar é todo meu
Pede à chuva, pede ao vento
Que afaguem o meu lamento
Diz aos poetas da vida
Que vivo d’alma ferida
Diz ao meu velho país
Que longe não sou feliz
Balada do futuro
O caminho agora / É bem diferente
Trabalha e namora / Homem feito gente
Já pensa em cigarro / Já bebe café
Sonha com um carro / Sempre que anda a pé
Já vai para a farra / À hora que quer
Tem uma guitarra / Para se entreter
Vai para a bancada / Ver o futebol
Leva a namorada / Nos dias de sol
Sai com os amigos / P’ra jogar bilhar
Foge dos perigos / Evita falhar
Montou uma empresa / Do ramo que gosta
E tem a certeza / De ganhar a aposta
Pela internet / Divulga o que tem
E apenas promete / Vir a ser alguém
Casado e feliz / Família a crescer
Amando o país / Que o viu nascer
Projeta o futuro / Nos passos que dá
Tornando seguro / O seu amanhã
O tempo vai indo / A vida a rolar
Tem um sonho lindo / P’ra realizar
A grande paixão / Que o traz agarrado
É tocar violão / E cantar o fado
Fim de linha
Vinha espreitar a minha alma tão dolente
Parti o vidro, porque o vidro, na verdade
Nada guardava por ser vidro transparente
Mudei a chave da portada do meu lar
Para que tu não mais viesses ter comigo
Mudei a chave para não puderes entrar
Na minha casa, por não ser o teu abrigo
Mudei o email e mudei de telefone
Também mudei o meu perfil no facebook
Porém mantive a minha idade e o meu nome
A cor de pele, o meu sorriso e o meu look
Mas se vieres e me trouxeres nova paixão
Com garantias de mudanças p'ra melhor
Aceitarei e abrirei meu coração
Porque afinal nada mudou no meu amor.
Impaciência
De ti não me separo e nem esqueço
Que só de ti me chega a hora certa
-
Enquanto não vieres, já nada conta
Apenas a minh'alma te procura
Tu és a estrela-guia que me aponta
Caminhos que me levam à loucura
-
Enquanto não vieres sou voz fechada
Fazendo do silêncio a lei bendita
Até que a noite imensa e ansiada
Desperte no amor que por ti grita
Contraponto
Aceito a dimensão do meu fracasso
Rejeito tempestades que desdenho
Levando a minha voz ao meu espaço
De quando em vez, perdido na cidade
O palco onde o poeta é mais vulgar
Liberto a minha sã leviandade
E vou de peito aberto, então, pecar
Eu peco quando olho sem limite
O corpo da mulher que por mim passa
E peco quando em vez duma chalaça
Exibo o atrevimento dum convite
Eu peco quando tenho a pretensão
De ter uma só rua para mim
Eu sou o contraponto do verão
Que ao beijar uma flor, queima o jardim
Chuva a meu gosto
Mas partiu tão em segredo
Que quase ninguém notou
Partiu deixando a certeza
Que regressa mais acesa
P'ra rever o que deixou
A chuva terá saudade
De passear na cidade
E molhar solo sagrado
Ao regressar vai querer
Ir pela mão do prazer
Sentir o cheiro do fado
Enquanto a chuva não chega
A minh'alma não renega
O tempo que tem agora
Não sendo o tempo que quero
Eu não entro em desespero
Porque a chuva não demora
A saudade e a memória
Poema-verdade no livro da história
Saudade maior que mesmo dorida
Realça o amor no curso da vida
Pintada em poema com tintas de sangue
A saudade é tema quase sempre exangue
Exangue por dar fraqueza demais
Fazendo soltar suspiros e ais
Saudade que chora, saudade que dói
Fogo que devora, maltrata e destrói
Saudade que mora nas cordas da voz
Quando a alma chora por dentro de nós
Por leis que desconheço
Tenho o nada que mereço
E por leis que desconheço
Comecei logo no berço
A cumprir a minha lei
Reneguei sonhos nefastos
Por recear o seu preço
E por leis que desconheço
Vivi sonhos muito gastos
Com empenho e muito apreço
Para conhecer o mundo
Virei a vida do avesso
E por leis que desconheço
Fui poeta vagabundo
No meu poema disperso
Tenho a triste sensação
De não ser o que pareço
E por leis que desconheço
Naturalmente obedeço
À lei de qualquer paixão
Bastião do amor
Bastião do amor a que me dou
Perfeição do olhar madrugador
Bendita cor que a vida me ofertou
Milagre que chegou na hora certa
Pra dar rumo feliz ao meu caminho
Contigo partirei à descoberta
Da luz maior que vem do teu carinho
Por ti, eu subirei vales e montes
E vencerei montanhas sinuosas
Irei buscar a água às melhores fontes
Irei buscar perfume às melhores rosas
Não há barreiras fortes que m'impeçam
De te dar o futuro em salva d'ouro
As minhas ambições em ti começam
Bastião que és o meu maior tesouro