Poemas metrificados ( na sua maioria ) para Fado.

O apelo do sangue

Assim como qualquer mãe
Que cuida o filho que tem 
Ignorando cansaços
Aquela jovem mamã
Lá ia pela manhã 
Com a filhota nos braços

Tinha por sua rotina
Levar a linda menina 
Ao infantário escolar
Com devoção redobrada
Aquela mãe dedicada 
Dava o que tinha p'ra dar

O marido abandonou-a
Sem escrúpulos trocou-a 
Quase sem nada dizer
Nem sequer dava o sustento
Àquele lindo rebento 
Que não pediu p'ra nascer

Anos mais tarde, a menina
Já senhora e gente fina 
Soube que o pai que tivera
Era um velho vagabundo
Abandonado no mundo 
Por todos a quem se dera

Movida p'lo sentimento
Foi oferecer alimento 
A quem dela nem lembrava
Nunca lhe disse quem era
Mas ele vivia à espera 
Desse pão que alguém lhe dava

Triste fim teve esta história

Que no baú da memória 
Para sempre se gravou
O apelo do sangue é forte
E a filha à hora da morte 
Beijou o pai e chorou!